Desventuras em série: sobre o Decreto nº 9262/2018 que extingue cargos e veta concursos
Desenho de Noel Badges Pugh |
Hoje
acordei com uma notícia que me deixou apavorado: o veto de concursos
para a área de secretariado, tanto nível técnico como superior.
Fiquei apavorado e saí correndo para mobilizar amigas e amigos de
profissão para buscarmos reverter isso.
Trata-se
do Decreto nº 9262, de 09 de janeiro de 2018. Ele “extingue
cargos efetivos vagos e que vierem a vagar dos quadros de pessoal da
administração pública federal, e veda abertura de concurso público
e provimento de vagas adicionais para os cargos que especifica”.
Agora
a noite, tomei a decisão de ler o documento e buscar entendê-lo
melhor (deveria ter feito isso quando acordei, um erro).
O
documento fala de cargos que estão vagos e que podem vir a vagar,
conforme as servidoras e servidores forem se aposentando. Ele
apresenta uma lista de cargos que hoje estão vagos, dentro de alguns
órgãos, que são de diversas áreas do conhecimento, observe:
meteorologia, desenhista, vestuário, agropecuária, aeronáutica,
artes gráficas, metalúrgica, agrícola, biomedicina, enfermagem,
cenografia, filmagem, comunicação, nutrição, tecnologia da
informação, engenharia, segurança do trabalho, administração,
auditoria, odontologia, geografia, pedagogia, educação física,
recursos humanos, zootecnia, biomedicina, arquivologia,
biblioteconomia, economia, estatística, geologia, psicologia,
sociologia, farmácia, serviço social, fonoaudiologia, fisioterapia,
medicina, tecnologia, secretariado, letras, sanitário, biologia,
química, bem como outras áreas específicas. Vale dizer, que o
decreto apresenta uma tabela com os cargos, os órgãos onde estão
as vagas referentes a eles, a quantidade de códigos de vaga que o
órgão dispõe, quantas
estão ativas e quantos estão inativas. Se olharmos bem, veremos que
várias
das
vagas extintas hoje não estão ocupadas.
Alguns
detalhes devem ser observados: 1. Serão extintos cargos específicos
de órgãos específicos, não serão extintos cargos específicos de
toda a administração pública; 2. Acredito que essa medida busca
extinguir cargos que estão ociosos, vagas que estão inativas e que
mesmo sem elas a administração pública tem seguido funcionando; 3.
Não se extingue vagas só para o secretariado, mas para diversas
áreas como listei acima; 4. O secretariado é sim uma área de
disputa, tendo em vista algumas questões legais que impedem a
indicação de pessoas sem formação para atuarem na área, problema
esse vivenciado por várias outras ocupações e profissões, por
isso a necessidade dos Sindicatos e dos Conselhos fiscalizando isso.
Outra
questão importante a ser observada é que o decreto impede, mesmo
que de modo confuso (no inciso II, do Art. 2º, fica vedado “o
provimento de vagas em quantitativo superior ao estabelecido no
edital de abertura do concurso público”.),
a oferta de concursos para cargos de Técnico em Assuntos
Educacionais, dos Institutos Federais de Educação. Observe: veda a
abertura de concurso público e o provimento de vagas adicionais em
relação ao previsto no edital, somente para os Institutos Federais
de Educação, não para todos os órgãos. A
lista está no anexo IV do documento.
Sim,
essa medida tem sim ligação com o processo de desmonte do público
e a privatização de alguns serviços. Sabemos que essas vagas
extintas, provavelmente serão ocupadas, em um futuro próximo, por
terceirizados que executarão o mesmo serviço, com salários menores
e menos direitos. É importante estarmos cientes disso e não nos
deixarmos ludibriar com justificativas rasas, normalmente defendidas
pela mídia. O que aprendi com isso foi: primeiro, evitar me deixar
levar pelo fervor do momento e antes disso ir atrás do que está
acontecendo, ler, buscar informação e tentar criar uma opinião
mais elaborada sobre o assunto; segundo, ficar mais atento com as
medidas tomadas pelo atual governo, muitas coisas acontecem e só
ficamos sabendo quando as consequências chegam; e terceiro, evitar
tomar algumas atitudes sem antes ter uma ideia formada sobre o
assunto.
É
importante que tenhamos cuidado para não cairmos no erro de sermos
ingênuos nem extremistas por demais. Sabemos
que mais de 644 campi
dos IFs serão afetados com esse corte, além de várias áreas
específicas. Nesse sentido, acredito
que cabe uma reflexão sobre esse decreto, de modo que entendamos o
veto de concursos públicos para os cargos especificados, para
atuação dentro dos Institutos Federais de Educação. Lanço
alguns questionamentos que me vieram a mente enquanto escrevo esse
texto:
- De que modo foram escolhidos esses cargos?
- Em que medida isso afeta o funcionamento de algumas atividades específicas dos IFs?
- Qual a importância deles para as atividades diários dos IFs?
- Isso pode ser revertido de algum modo?
- É necessário que seja revertido?
Cabe,
agora, às instâncias representativas (sindicatos, comitês,
conselhos…) buscarem informações sobre isso. Nós, como cidadãos,
também devemos ir atrás de informação.
Se nos sentimos prejudicados, temos o direito de ir atrás de nossos
representantes para questionar tais medidas. O que sempre falo para
minhas alunas e meus alunos é que façam isso sempre de modo formal
e documentado, registrando seus questionamentos e demandas, assim
fica mais fácil de cobrar em um futuro próximo.
No
mais, não sou jurista, nem tenho formação em direito. Espero que
tenha colocado as informações da melhor forma possível. Se você
está lendo isso e não se sentiu contemplada(o), fique à vontade
para deixar seu comentário e juntos fortalecermos o debate.
Esse decreto acabou me prejudicando, estou na lista de espera para auxiliar administrativo do IF e como fiquei em sexto lugar e nos últimos concursos sempre chamavam todos da reserva, estava confiando que iria ser chamada, agora não podem chamar candidatos fora das vagas previstas no edital, ou seja, não chamarão os que estão na reserva mesmo sendo evidente que é um cargo útil a instituição. E pelo que penso, infelizmente não há nada que se possa fazer para contornar a situação.
ResponderExcluirPoliana,
ExcluirQue situação difícil. Você tem alguma notícia sobre?
Espero que tudo se resolva.
Abraços fraternos,
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