Operacional estratégico: o cerne do fazer secretarial e da assessoria executiva


Entendo o operacional estratégico, no âmbito do secretariado executivo e da assessoria executiva, como a síntese entre a execução técnica e a inteligência organizacional, em que a mediação de informações, a articulação de relações institucionais e a antecipação de demandas estruturam a tomada de decisões, ainda que sem o devido reconhecimento formal. Longe de ser uma simples função de suporte, o secretariado opera nos bastidores da governança corporativa, influenciando fluxos de poder e contribuindo para a eficiência estratégica da organização. No entanto, essa atuação é frequentemente capturada pelo discurso empresarial, que exige maior engajamento estratégico sem a correspondente valorização, perpetuando a invisibilidade da categoria. Assim, o conceito de operacional estratégico evidencia a necessidade de superar a dicotomia entre execução e planejamento, reafirmando o papel do secretariado como agente fundamental da estrutura organizacional.


O conceito de operacional estratégico no âmbito do Secretariado Executivo, sob uma perspectiva crítica, pode ser construído a partir da tensão entre trabalho esperado e trabalho real, bem como da contradição entre subalternidade (ou seja, de uma postura onde a(o) profissional é colocada(o) ou se coloca como inferior) e autonomia estratégica nas estruturas organizacionais.


Operacional x Estratégico: uma falsa oposição?

Tradicionalmente e no discurso comum, o secretariado é enquadrado como uma função operacional, associada à execução de tarefas administrativas, controle de agendas, gestão de documentos e suporte técnico aos gestores. Já a dimensão estratégica é reservada às esferas de tomada de decisão e planejamento organizacional, historicamente ocupadas por gestores e alta administração.

No entanto, essa divisão acontece como um mecanismo ideológico que invisibiliza o caráter estratégico do trabalho desempenhado pelo secretariado executivo. A execução de tarefas aparentemente "operacionais" carrega um conhecimento tácito e uma capacidade de articulação, intermediação de relações de poder e gestão da informação que são fundamentais para a dinâmica organizacional.

Se analisarmos sob a ótica da Governança Corporativa, por exemplo, o profissional de secretariado assume um papel central na transparência, conformidade e organização dos fluxos de comunicação, tornando-se um agente fundamental na operacionalização da estratégia. Contudo, esse papel raramente é formalmente reconhecido, reforçando a precarização simbólica da categoria.

O conceito de operacional estratégico evidencia que o secretariado não apenas executa, mas também influencia, ainda que indiretamente, as decisões organizacionais. Essa influência se dá pela curadoria da informação, pelo gerenciamento das relações interpessoais e pela capacidade de antever demandas e problemas organizacionais.


Perspectiva Crítica: o secretariado executivo já é operacional estratégico

No contexto contemporâneo, o discurso de que o secretariado precisa se tornar “mais estratégico” parece indicar uma valorização da profissão, mas, na prática, pode esconder uma dinâmica contraditória: a ampliação das responsabilidades sem a devida contrapartida em reconhecimento e autonomia. As corporações frequentemente instrumentalizam essa exigência para justificar o aumento da carga de trabalho, enquanto mantêm o secretariado em uma posição de invisibilidade dentro das estruturas decisórias.

Entretanto, o mercado já reconhece, ainda que de forma implícita, o valor estratégico desse profissional. A existência de salários elevados em determinadas empresas e setores demonstra que a atuação do secretariado transcende a execução de tarefas operacionais, abrangendo gestão da informação, mediação de conflitos, governança e suporte à tomada de decisão. Esse reconhecimento silencioso, expresso na remuneração e na complexidade das funções desempenhadas, evidencia que o secretariado executivo já é operacional estratégico, mesmo que isso nem sempre seja nomeado ou formalmente reconhecido.

Essa realidade expõe um paradoxo: se for visto como "apenas operacional", o secretariado é tratado como descartável; se sua atuação for claramente estratégica, há o risco de que seu impacto seja apropriado pelas lideranças, sem o devido reconhecimento. O desafio, portanto, não está em “tornar-se estratégico”, mas sim em tornar visível e valorizado o papel que já exerce, reivindicando maior autonomia, participação ativa nas decisões e reconhecimento formal como peça-chave na estrutura organizacional.


Bora de Exemplos?

Gestão de Agenda como Ferramenta Estratégica

Um executivo de alto escalão tem uma agenda lotada, com compromissos concorrentes que exigem tomadas de decisão rápidas. O profissional de secretariado não apenas organiza os horários, mas prioriza reuniões e eventos com base nos objetivos estratégicos da empresa. Ele antecipa necessidades, marca encontros-chave em momentos estratégicos e evita sobrecargas que poderiam prejudicar a produtividade do gestor. Além disso, ao organizar reuniões com stakeholders, o secretariado prepara briefings detalhados, garantindo que o executivo tenha informações essenciais para negociações eficazes.

Embora essa tarefa pareça puramente operacional, sua curadoria inteligente do tempo e das interações impacta diretamente a eficácia da liderança, tornando a gestão de agenda uma ação operacional estratégica.

Elaboração e Gestão de Documentos com Impacto na Tomada de Decisão

O secretariado executivo é frequentemente responsável pela preparação de atas, relatórios e apresentações para reuniões corporativas. Em um comitê de diretoria, por exemplo, além de registrar as discussões, o profissional estrutura os pontos de forma que as decisões sejam destacadas e organizadas com clareza. Ele traduz debates complexos em informações objetivas e estratégicas, facilitando a consulta posterior e garantindo a continuidade dos projetos.

Além disso, ao revisar documentos antes do envio, o secretariado identifica incoerências, antecipa possíveis questionamentos e sugere ajustes que podem evitar retrabalho ou decisões equivocadas. Assim, a gestão documental deixa de ser um simples suporte administrativo e passa a ser uma ferramenta estratégica para a governança da empresa.

Esses exemplos mostram que, mesmo em tarefas rotineiras da assessoria executiva, o profissional de secretariado não apenas executa, mas influencia processos e antecipa necessidades, consolidando seu papel operacional estratégico.


Redefinição do Papel do Secretariado: Para Além do Discurso Empresarial

Então, proponho, a partir deste texto e corroborando com a Teoria Crítica Secretarial, rompermos com a dicotomia entre operacional e estratégico, entendendo que a Teoria dos Níveis Estratégicos de atuação, da Administração, não consegue abarbar a complexidade secretarial, silenciando e nos situando em um lugar de subalternidade que não nos cabe, compreendendo que a função do secretariado já é estruturalmente estratégica, ainda que esse reconhecimento seja negado. Isso implica lutar por:

  • Maior autonomia na tomada de decisões na estrutura organizacional.
  • Reconhecimento da sua influência na governança e na gestão estratégica.
  • Redefinição do seu papel na organização a partir da materialidade do trabalho real e não apenas do trabalho prescrito.

O conceito de operacional estratégico, portanto, aponta para a necessidade de uma releitura do trabalho do secretariado que vá além das narrativas empresariais e evidencie a importância do profissional como agente de governança, mediação e articulação institucional.

Comentários

  1. Artigo relevante para reflexão e posicionamento de profissionais do secretariado.
    A abordagem e uso de termos mais adequados, qualifica e valoriza o nosso trabalho e dedicação para melhor atuação dos dirigentes e executivos a quem servimos.

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