Comitê de Secretariado do DF: sobre sonhos e diversidade humana

Desenho de Noel Badges Pugh

Diferença. É tão difícil escrever sobre diferença, talvez porque essa palavra é repleta de significados que nem sempre direcionam para uma percepção positiva dela.

Sabemos que em uma sociedade onde a hegemonia é idolatrada, ser diferente é ser do contra e tomar uma postura que vai além do padrão aceitável. Agora pergunto: aceitável para quem? aceitável em que contexto?

Boaventura de Sousa Santos, em seu texto A construção intercultural da Igualdade e da Diferença é enfático ao afirmar que “...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”. Em uma sociedade em que ser diferente me inferioza, eu tenho o direito à igualdade (no tratamento, no acesso aos bens, na construção de direitos...) e em uma sociedade em que ser igual me descaracteriza como sujeito, eu tenho o direito de ser diferente (ter percepções diferentes, jeito de ser valorizado, individualidade respeitada...). O social se constrói na diferença, essa por sua vez é que movimenta e permite novos olhares sobre coisas comuns. Somos todos diferentes, seja em gostos, questões estéticas, interesses ou concepções, isso é um fato. O modo como lidamos com essa diferença é que dirá se somos inclusivos ou excludentes.

Nesse texto, por ser muito amplo o conceito de diferença e por ele poder ser adotado em diferentes áreas de conhecimento, farei um recorte conceitual, de modo que consiga trabalhar a diferença articulada à diversidade humana. 

A diversidade humana, por sua vez, direciona para a a valorização das diferenças humanas. Na diversidade, ser diferente é normal e importante para o desenvolvimento histórico, cultural e social. Logo, a diferença toma uma nova roupagem, agora de algo incentivado, aceitável e com um alto grau de importância. Se a diferença isolada, no senso comum, nem sempre será internalizada como algo natural e interessante, na diversidade ela é natural do ser humano e merece ser respeitada.

Muitas pessoas, baseadas em uma postura extremista, um ativismo raso e concepções sem embasamento teórico, ainda demonizam o diferente, atribuindo a ele uma carga tão negativa que merece ser combatido. Outros, fingem aceitar a diversidade humana, mas no fundo acham isso uma grande besteira. Alguns, dizem aceitar as diferenças humanas, mas na prática são mais padronizadores que tudo. Nesse cenário, existem ainda pessoas que entendem que a diferença é uma constante e não deve ser combatida, mas sim estudada e compreendida de modo que busquemos rumos favoráveis e dignos para todas e todos.

E como parte da sociedade, a diferença também habita no meio do secretariado. A diversidade está em todos os cantos dessa profissão. Ainda existe uma imagem, baseada em paradigmas construídos historicamente por trás da profissão, da secretária vestindo um tailleur (conjunto de blazer e saia ou blazer e calça), sentada atrás de uma mesa atendendo telefonemas e anotando recados. Isso mudou! Mudou muito, muito mesmo. Hoje a profissão é exercida por mulheres e homens, que podem ou não usar terno ou tailleur, que trabalham tanto no operacional, como no tático e estratégico dentro das empresas. Se antes ocupávamos postos de trabalho, dentro de secretarias, hoje somos profissionais que prestamos assessoria, uma função extremamente complexa que exige formação profissional, interdisciplinar e holística. Agora, imagine um grupo de profissionais que consiga reunir secretárias e secretários que atuam em diferentes frentes, que se respeitam em suas diferenças e que juntos lutam em prol da valorização do profissional de secretariado. Esse grupo existe e está aqui no Distrito Federal.

O Comitê de Secretariado do DF é a materialização da diversidade humana dentro do secretariado. Temos mulheres e homens que atuam em áreas que muitos acham que não temos formação para tal. Está certo que algumas de nossas atuações exigiram uma formação complementar, seja em nível de especialização, mestrado, doutorado ou cursos específicos. Todavia, vale ressaltar que somos secretárias e secretários, dotados de conhecimentos específicos, mas que conseguem trabalhar com a completude, ao tempo em que trabalha com a diversidade humana diariamente. Somos profissionais de secretariado que atuamos na docência, na assessoria executiva, assessoria de imprensa, mentoria, assessoria remota, assessoria de eventos, assessoria de estilo, assessoria estética e de bem estar, construção de conteúdos digitais (em blogs e sites especializados), assessoria diplomática, diretoria de administração financeira, assessoria nas áreas de hotelaria e turismo, assessoria especializada, organização de viagens, no cerimonial de eventos de pequeno, médio e grande porte, na diretoria do sindicato, na oferta de cursos especializados, na assessoria jurídica, na assessoria pública, coordenação de cursos superiores da área e na pesquisa acadêmica sobre o secretariado. 

O Comitê consegue reunir profissionais de diferentes perfis, que atuam em áreas diferentes, mas que juntos encontram interesses e anseios comuns. Ele tem se destacado, nacionalmente não porque consegue fazer grande eventos, mas por causa do discurso inclusivo perpetuado dentro dele, além de uma postura de enfrentamento aos estereótipos preconceituosos por trás da profissão, bem como o entendimento da assessoria como uma área tão ampla que permite atuações específicas, onde não caberão padrões, onde o diferente é que fará frutos florescerem. Em meio a padrões, construímos um grupo que reinventa esses padrões baseados na diversidade humana. Algumas e alguns de nossos membros, por questões estéticas e atitudinais não se encaixam, por exemplo, no perfil do profissional de secretariado desenhado nos livros e reforçado pela mídia, para nós isso não é um problema, para elas e eles também não, afinal a atuação deles são em áreas que permitem algumas flexibilizações. Sabemos ponderar as coisas e entender que existem momentos para tudo, o momento que exige uma maior formalidade e outros que exigem informalidade, ser profissional de secretariado é isso: saber se adaptar, sem rigidez, mas de modo leve e amistoso. 

Diversidade, valorização da diversidade é o que encontramos no Comitê. Um grupo aonde podemos ser nós mesmos, onde o secretariado é amado, aonde nos ajudamos, sorrimos e nos alegramos com as conquistas da profissão e das colegas e dos colegas. É um grupo que não se formou dentro de uma caixa, mas na fluidez do voar e sonhar sonhos ditos impossíveis. O impossível é só questão de opinião, sabemos bem disso. 

Em 2017, o Comitê se consolidou como grupo e como entidade representativa do secretariado no DF. Em 2018, queremos mais, queremos mostrar ao mundo a grandiosidade do secretariado, desconstruir paradigmas ao redor dessa profissão e conquistar novos corações, encantando as pessoas e mostrando que a assessoria não é uma subárea, mas sim uma profissão única, linda, complexa e que tem feito empresas se destacarem no mercado. Queremos possibilitar o empoderamento de profissionais que desacreditaram na profissão, de discentes que estão terminando o curso e de milhares de secretárias e secretários que não veem sentido no que fazem. Nossa meta se constrói na coletividade, no querer o bem estar do coletivo, no lutar para que esse coletivo tenha condições dignas de trabalho e de vida, além de amarmos e valorizarmos a diversidade humana. 

Somos diferentes, somos únicos, somos poucos, mas somos muitos, somos secretárias e secretários, somos assessoras e assessores, somos diversos, somos formais e informais, somos MPB e somos ROCK, somos o Comitê de Secretariado do DF, um grupo onde ser você mesmo é permitido, onde não há limites para sonhos, onde caneta e papel não somente assinam memorandos e ofícios, mas são utilizados para escrever lindos poemas de dias melhores para a profissão e para a sociedade brasileira.


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