Um texto prepotente sobre uma mente que não para
Obra de Henrietta Harris |
Esse é um texto prepotente, medíocre, individualista, nada direto e sem encaminhamentos. Se isso te interessa, podemos seguir juntos.
Minha mente borbulha, a todo momento, ela se movimenta em uma constância que me faz ficar preocupado com uma possível loucura futura. Nada para, quando quero que pare, não para. Como fruto disso eu preciso conviver com uma indesejável ansiedade. Parece que as coisas não param, mas não chegam aonde deveriam chegar.
Eu espero. Mentira, eu ajo. Rotineiramente eu estou tomando algumas rédeas, decidindo, abrindo-me, mostrando-me, fazendo com que as coisas aconteçam. Sabe aquele trem que solta o vapor do fogo que o movimenta? Eu me sinto como esse trem, sem soltar o vapor, por vezes ele dá uma fugida pelas brechas entre os parafusos e o ferro que me constituem, mas nem sempre isso é intencional. Espera, é intencional sim. Pelo menos é um desejo meu: que o vapor saia e eu caminhe livre do que eu não preciso carregar.
Por vezes, eu saio dos trilhos e isso não é intencional, nunca será. Eu quero continuar ali, caminhando, seguindo, fluindo, mas a fumaça que me toma me bloqueia em meu trajeto de vida. Eu me sinto meio estagnado as vezes, estagnado com uma mente em pleno funcionamento. Cá para nós: tem horas que eu acredito que isso é bom, mas em outras não. Eu quero, eu faço, mas nem sempre eu consigo e isso parece ser o fluxo da vida. Agora, por qual motivo eu não consigo entender essa bendita mensagem? Não paro. Nunca paro. Só quando minha estação preferida me toma a mente.
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Eu sinto que dormir me atrapalha e eu sei que isso é ruim para minha saúde. Eu deveria dormir cedo, acordar cedo e fazer minhas coisas enquanto houvesse luz. Não!
Minha mente não para e estar fluindo ao lado de outras mentes não deixando eu me concentrar nas ideias e loucuras que me passam na cabeça, faz com que eu me anule por um momento. Eu me apago. Eu preciso me concentrar em algo e quando estou com outros, é neles que eu me concentro, em seus projetos, em suas pendências, em suas dores, em suas necessidades, em seus amores. Eu me rendo ao outro como um cordeiro indo se sacrificar para purificação dos pecados que não são seus.
Eu consigo me ver no outro, sempre e em todos os momentos, chega a ser um grande pleonasmo. Eu me vejo no outro e está aí um problema que eu preciso conviver com ele: eu vejo um alguém que eu já fui, passado, e as vezes isso me chateia, me deixa desconfortável. Eu vejo aquele que eu não quero lembrar, aquele que eu desejo deixar aonde ficou... e um processo de masoquismo se instaura. Eu não consigo dizer não, eu preciso ajudar, eu preciso fazer algo, eu não consigo sair. Eu me rendo ao outro, eu me vejo no outro, eu lembro de mim, eu me machuco e com meu sangue eu escrevo uma carta de amor para o outro dizendo dos desafetos da vida e como vencê-los. Eu ainda não venci os meus!
Enquanto escrevo, sinto que não o faço, não sou eu, são somente minhas mãos e meu sangue servindo de tinta. Cada carta, cada palavra, cada período, tempo, parágrafo soam como uma grande faca de dois gumes, cortando lá e cortando cá. Eu sou usado para construir a faca que vai me cortar, cortar para sarar, curar. Parece loucura isso, talvez agora você entenda meu medo.
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E minha mente não para em nenhum momento, mas é só nas madrugadas que eu a consigo ouvir. Nas madrugadas eu me escuto, eu me protejo, eu me curo, me saro. São nelas que eu planejo o futuro. Enquanto estou com os outros, sou forçado a todo momento visitar o passado, quando estou comigo eu visito o futuro. O convívio é primordial, pois me ajuda a visitar as fumaças que me preenchem, mas é na solidão que eu me escuto. Não solidão, solitude. Solitude, a arte de se entender sozinho.
Eu nunca estou sozinho, eu estou com partes que me compõem. E sou composto por amor e pelo amor eu me torno filho de Deus. Ao estar comigo, estou com Ele, ao estar com Ele eu transcendo, não para um lugar melhor, mas para o caminho que me levará para uma versão melhor de mim, não porque mereço, mas porque a sua graça assim permite. É quântico.
E eu me debruço nos livros, nas leituras, nas pesquisas, no choro. Eu sinto pleno tesão ao aprender algo novo, é como se fosse um remédio ou uma droga, mais um pleonasmo da vida, que me mantém bem. Eu fujo de tudo na leitura, nela eu me escondo e me projeto. Leituras intencionais, medicinais e terapêuticas. Eu não leio auto-ajuda, são leituras técnicas. Por exemplo: na Análise do Discurso Crítica eu me curei de algumas dores, ao analisar o motivo de eu estar reproduzindo discursos negativos para comigo mesmo. Na leitura sobre bioética, eu me curei da minha irresponsabilidade comigo, com meu bem estar. Na metodologia, eu vi que os meus caminhos estavam soltos e logo eu precisava traçar outros rumos e formas de chegar até lá. Eu leio para me entender e ao me entender eu entendo o divino que habita em mim e ao entender o divino que habita em mim eu entendo a criação e o mundo e ao entender isso eu me torno livre, livre e próspero, não por ser melhor, mas por consequência.
Enquanto os outros que me ajudam a curar o meu eu do passado dormem, eu construo o meu eu do futuro. Eu não tenho sorte, ouso dizer que nunca tive, ela, a sorte, talvez nem seja algo que possamos ter posse, deve ser uma grande falácia ou não, pode ser que eu tenha uma visão pessimista em relação à isso por nunca ter tido o prazer de alcançar algo somente por sorte, pode até ser inveja de quem é sortudo, é uma possibilidade bem grande por sinal. Tudo que tenho é consequência de todo o planejamento que eu passo a noite toda planejando. E eu planejo em conjunto, eu e Aquele que me compõe, que habita em mim, que faz parte de mim. Eu preciso começar para Ele me ajudar. Eu preciso fazer algo. Escrevendo agora, sinto que talvez seja Ele que não deixa minha mente parar, o grande maquinista.
Eu não durmo porque a minha mente não deixa, é como se ela gritasse e falasse: ande, aproveite esse momento, você precisa escrever, criar, projetar, daqui a pouco alguém acorda e aí não será mais você. Não será só mais eu. É incrível como som do vizinho de cima acordando para ir trabalhar me dá um sono, me desmonta. Dizem que isso não é natural, mas me soa tão meu.
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São 05h57 da manhã e preciso finalizar esse texto, logo acordam e não será mais só eu. Eu disse no início que esse não era um texto direto, desculpa se te decepcionei, não foi a intenção.
É difícil escrever sobre a gente e quando o faço não é porque quero, mas porque preciso, uma necessidade interna frutífera que fragmenta todo meu orgulho e desejo de me esconder. É fácil se esconder, é viciante. O desafio é se conhecer, se ler e se responsabilizar pelo outro, não como tutor ou mentor, mas como parte integrante da vida dele, do presente, do passado ou do futuro, você tem domínio sobre isso e te deixo com essa verdade irrefutável.
Bom dia.
Que incrível.
ResponderExcluirEm vários momentos sentir-me parte do texto.
Me vi traduzida em algumas dessas linhas.
Realmente incrível!