Ações intencionalmente conscientes: uma análise pessoal

Arte de Ludwig Hofmann


Nota de abertura:

Este é um texto prepotente, egoísta, pessoal e indiscreto. Talvez faça sentido para você que, assim como eu, tem alguns picos de autorreflexão e autoanálise.


[...]


Eu descobri que não tenho que provar nada para ninguém. Faz poucos dias que descobri isso.


Ontem, estive relembrando toda a minha trajetória dos últimos 11 anos e me orgulhei dos rumos que tomei. E eu fiz tanto, parecia que eu estava correndo contra o tempo (em certo momento de minha vida, sim, eu corri contra ele), mas tudo ocorreu tão naturalmente. Eu poderia tentar construir uma receita mágica para te ensinar a atingir o sucesso, se é que eu o tenha atingido, todavia seria uma tentativa em vão, pois sinto que as pedras foram se encaixando fluidamente.


Ao analisar toda essa trajetória, algumas lembranças vieram a tona: os mega eventos em que palestrei; as instituições de nome onde estive falando do secretariado; os milhares de visualizações que tenho em meu blog e site mensalmente; o carinho de tantos; as novas amizades que surgiram e se foram e as que ficaram e criaram raízes; e, não menos importante, o Prêmio que ganhei. No âmbito acadêmico, realizei meu mestrado em uma das instituições mais importantes do país; e retornei para fazer o doutorado no melhor programa da área.


Quando publicamos o e-book organizado pelo professor Eduardo Edilson e eu, disseram que aquilo não era um livro para ter ISBN, numa clara tentativa de silenciar a obra e de nos tirar o direito autoral do que construímos (“e o que construíram?”). Falaram que aquilo queimaria meu filme. Não queimou! O público alvo foi atingido e a meia dúzia de pseudo-intelectuais que se incomodaram não fazia parte dele.


Quando publiquei meu livro, Teoria Crítica Secretarial, disseram que não fazia sentido essa tal de teoria crítica, com tantas provocações e questionamentos para a academia. Entrei em um doutorado que se embasa na teoria crítica marxista. O público alvo foi atingido e a meia dúzia de pseudo-intelectuais que se incomodaram fazia parte dele, foi provocada.


Quando usei uma calça pantalonas em um evento do secretariado, disseram que não era o ideal para a ocasião. E não era mesmo. Talvez você esperasse uma problematização aqui, mas não tem, eu errei mesmo.


No fim, o que fica é a tentativa de delimitação de minha ação. E, provavelmente, você já deve ter vivido momentos como esses nos quais o seu trabalho e a sua postura são colocados em cheque. 


Uma das minhas principais defesas é a de que devemos ter plena consciência do que fazemos e dos nossos limites. Costumo repetir com certa frequência: tenha o controle estratégico das suas ações, estabeleça rotas que conversem com o seu perfil e projetos futuros, mantenha a coerência entre o que se prega e o que se vive, seja você mesmo, mas entendendo os limites sociais, os convites de evolução humana que a vida te oferta diariamente e estando aberto ao novo. 


Não há problema em ser provocativo, desde que isso não seja uma fuga para um trauma seu, mas sim uma estratégia específica para dialogar com seu grupo ou estabelecer algumas conexões delimitadas estrategicamente. É o que chamamos uso estratégico da imagem. 


É preciso haver intencionalidade e consciência dessa intencionalidade. Nesse sentido, quando falamos de consciência, falamos da compreensão dos limites da ação, os prós e ônus que você terá que administrar com aquilo. Assim como tudo na vida, teremos apoiadores e críticos ávidos, a questão é saber se você está preparado para eles, entendendo os limites dessa relação.


Eu sempre fui o moço com muita dificuldade para dizer não (e ainda tenho), mas com o tempo eu fui aprendendo a administrar as situações, compreendendo quando eu estava sendo “manipulado”, quando eu estava sendo “usado” e ressignificando isso. Você precisa de mim pela minha influência? Ficarei feliz em estar contigo por isso, mas não pense que eu não entendo os limites da nossa relação. Ao mesmo tempo, é fundamental estarmos atentos à síndrome da mega-importância, eu não sou o alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado, para julgar que todos me querem, que me usam, que me desejam ou que me odeiam (olhe para o espelho e questione para si: quem é você na fila do pão?). Isso soa de uma prepotência única e desumana, consigo mesmo. Todos somos importantes e podemos ofertar algo em algum momento, e isso é absolutamente natural de uma vida social, uma vida coletiva. É uma troca, sabe?!


Nesse meio trajeto, descobri também o “eu não me importo” (ainda que eu me importasse em alguns momentos). Este não é um posicionamento vazio de criticidade, mas repleto dela. Eu entendo os limites da relação com o outro ao tempo em que me permito evoluir nessa relação. O que faz sentido, eu pego; o que não faz, deixo fluir com o vento que o leva. E, nessa altura, aprendemos que a fala do outro reflete somente as dores dele: dores não administradas, dores negadas ou dores que ele superou e que quer que você supere no mesmo tempo que ele. Cada um tem o seu tempo e podemos escolher quando queremos ou não se importar com determinadas questões. Nesse processo, experimente o “eu não me importo”, mas “respeito e agradeço o seu desejo de me ajudar agora”.


Aprendi também que a coerência da minha trajetória me permite ditar algumas regras. Não existe questão de superioridade aqui, somente uma trajetória que me possibilita estabelecer alguns limites. Eu posso escolher o que postar, pois, já compreendi que o meu público se identifica com isso; eu posso escolher o que vestir, pois, a roupa é um objeto de uso para mim, para informar, provocar, questionar, não o oposto disso; eu posso escolher os lugares que frequento, pois, já não preciso mais de uma aprovação continua que me era como um filtro do que eu merecia ou não; eu posso escolher com quem me relacionar, pois, tenho consciência dos valores que levo comigo, não perdendo a dimensão da evolução humana, da qual eu me incluo (somos inconclusos e estamos em constante processo de aprendizado). Eu posso me permitir alguns caprichos, não pelo outro, mas por mim.


Sendo assim, não faz sentido viver as limitações que o eu de antes precisava viver, mas que para o eu de hoje não cabe. Eu entendo que em alguns momentos me olham como um menino e esse olhar me revela mais sobre quem acha isso do que sobre mim. A minha trajetória me justifica. Eu entendo que algumas pessoas pensam que muitas de minhas ações são feitas por impulso, mas a intencionalidade dos meus atos só fazem sentido no meu projeto de vida e de influência. Eu entendo que algumas pessoas acreditam que eu sou um menino inocente, mas as escolhas de me envolver em alguns jogos, somente eu faço e os limites disso, eu sei. 


Intencionalidade é quando há uma intenção; intencionalidade consciente é quando eu, conscientemente, estabeleço a intenção por trás de determinada atitude. Tudo é pessoal, tudo tem partido, assim como tudo tem sua intencionalidade, que por vezes não é consciente. Como sinalizado acima, muitas de nossas atitudes podem ser como uma chave de fuga para alguns traumas não trabalhados; assim como muitos de nossos posicionamentos podem revelar dores silenciadas em nós mesmos. Quando você toma as rédeas disso, entende o que está por trás de suas atitudes, a chave vira e você começa a trabalhar intencionalmente as suas ações. A terapia ajuda muito nisso. Lembre-se: tudo tem uma intencionalidade, a questão é: consciente ou inconsciente?


Finalmente, cheguei ao ponto de dizer: a minha trajetória me justifica. As pessoas gostam de seguir quem usufrui daquilo que elas desejam, mas seguirão efetivamente àquelas que conseguem estabelecer conexões de vida, não idealizada, mas real e coerente. As pessoas se conectam ao Jefferson, pois ele é real, tem dores e não tem medo de demonstrar; sorri quando quer sorrir; que acolhe quando tem forças para fazer isso; que se despe para entender ser pequeno em meio à grandiosidade do mundo e dAquele que lhe cuida; e se mostra estratégica e intencionalmente sem medo dos julgamentos. Há intencionalidade e, nesse caso, ela é consciente com foco no coletivo.


Como o texto está longo, penso que já é a hora de finalizar. 


Viver é para os fortes. Os fortes que decidem assumir o controle de sua trajetória, de se emancipar das regras que fazem sentido na vida do outro, mas não nas suas. Os fortes que se permitem se conectar consigo mesmo, inclusive em suas dores, suas decepções, seus medos e buscam ressignificá-los em prol de uma vida mais plena. Os fortes que estabelecem, contra o senso comum, as suas próprias rotas de vida, estrategicamente intencionalizadas. Os fortes que respeitam os seus próprios limites e os limites do outro. Os fortes que entendem que podem ditar algumas regras, mas que está em constante processo de evolução humana e que, por isso, não devem fechar portas, mas filtrar o que chega até eles. Os fortes que compartilham, não como querem, mas como precisa ser compartilhado, de modo a atingir as pessoas ao seu redor. Os fortes que mesmo podendo ganhar, escolhe em dividir para unificar e fortalecer. Os fortes que estabelecem uma trajetória coerente e auto-justificável. Os fortes que reconhecem seus traumas, mas assumem o controle, não deixando respingar nas pessoas ao redor. Os fortes conscientes de suas limitações, mas que nutrem um desejo íntimo de evoluir, não só para si, mas para ajudar outras pessoas. Os fortes que se despem de seus preconceitos e se permitem serem tocados pelo outro, reconhecendo a importância da coletividade humana. Os fortes que se fortalecem para conseguir ter forças para fortalecer outros. Os fortes se amam para conseguir ofertar amor. Os fortes que vivem, não sobrevivem.


Com carinho, 


Jefferson Sampaio


Comentários

  1. Parabéns Jefferson Sampaio. Bela reflexão.

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  2. Com certeza, cada trajetória justifica cada ser com seus aprendizados - ou não. Boa reflexão, ainda sou aprendiz.

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  3. Esse é o seu jeito de ser único que eu adoro! Parabéns!

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  4. Excelente reflexão. Obrigada por compartilhar seus pensamentos.

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  5. Parabéns. Continue sim expressando intencionalmente, assim nos provoca a pensar e refletir.

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