Ativismo secretarial: uma prática necessária e urgente


Imagem: Alicja Kwade, Forecasting Horizon, Galleri Nicolai Wallner

ATIVISMO SECRETARIAL: ação crítica e reflexiva da/o profissional consciente que se percebe enquanto sujeito ativo na defesa da profissão de secretariado e estabelece uma relação contínua com os demais profissionais da área, em uma rede humanitária e solidária de troca de experiências e auxílio mútuo.

ATIVISTA SECRETARIAL: profissional consciente e ativo na defesa da profissão de secretariado, que estabelece uma relação contínua com os demais profissionais da área, em uma rede humanitária e solidária de troca de experiências e auxílio mútuo.

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Pensar o secretariado é pensar também nos desafios diários que enfrentamos para conseguirmos desenvolver nossas atividades e nos estabelecermos dentro do ambiente corporativo. 

Não dá para romantizar a profissão e pensar que tudo depende somente da/o profissional de secretariado ou da/o executiva/o. Existem uma série de relações e construções sociais que permeiam a prática dentro da profissão. O desafio, então, a quem busca compreender crítica e profundamente os fenômenos secretariais, é se permitir debruçar sobre teorias construídas em outras áreas do conhecimento para conseguir embasar as suas análises e, com isso, construir uma teoria aplicada à e em relação à prática.

Para elucidar o que apresento no parágrafo acima, pensemos:
  • ao trabalharmos as relações de assédio à secretária na prática secretarial, é preciso de estudar sobre machismo, feminismo, misoginia, divisão de gênero no trabalho e teorias sociais relacionadas ao estudo de gênero;
  • ao analisarmos os preconceitos relacionados ao “servir”, necessitamos de estudar sobre antropologia, escravidão no contexto brasileiro, semiótica, análise do discurso, divisão social do trabalho, formação para o trabalho, dentre outros temas relacionados à história do Brasil e como a escravidão influenciou no nosso modo de olhar as profissões;
  • ao refletirmos acerca da desigualdade salarial, do “jeitinho brasileiro” em contratar o profissional com outra nomenclatura para poder pagar menos, necessitamos ler sobre cultura, ética, moral, análise do discurso crítica, sociologia do trabalho, dentre outros;
  • para estudarmos sobre o que é ser “secretária/o” no senso comum, é preciso de saber sobre a história brasileira, machismo, misoginia, divisão social do trabalho, semiótica, análise do discurso crítica, sociologia do trabalho, dentre outros.

Não é possível construir teoria real sem entendimento de causa e compreensão total dos processos que permeiam a prática. Quando a ação não é compreendida, ela causa alienação no sujeito, é como se você fosse “programado” para desenvolver determinada atividade e não conseguisse mudar seu modo de fazer, pois você só aprendeu um único modo de se fazer aquilo. A compreensão total, permite que você compreenda o processo e com isso estabeleça novas, criativas e inovadoras formas de ação, quando necessário; junto a isso, ela ainda te permite refletir e questionar relações de violência e violação de direitos dentro do trabalho.

Veja bem: não é só pensar na prática em si, mas o que influencia na realização daquela atividade, as relações que estão por trás, os desafios. E para isso, é preciso LEITURA e ESTUDO, dos textos básicos e manuais que foram feitos para profissionais de secretariado, bem como de textos de outras áreas relacionados à compreensão dos fenômenos sociais no mundo do trabalho, afinal somos uma área das Ciências Sociais Aplicadas.

Hoje temos muitos profissionais de secretariado que estão no auge do sucesso profissional, que encontram sentido em sua prática, que têm bons postos, com excelentes salários e benefícios, eu fico tão feliz em conhecer tanta gente que está neste lugar. Esses profissionais, comumente, praticam o processo de autoconhecimento e estão em postos que conversam com seus perfis, a maior parcela deles atua na assessoria executiva direta, formação “padrão” realizada nos cursos superiores de secretariado ao redor do Brasil.

Todavia, essa não é uma realidade para uma imensa parcela de profissionais que diariamente não consegue ver sentido no que faz e acaba por desistir da profissão ou se submeter aos postos de trabalho que inferiorizam e minimizam as suas habilidades e competências. Isso porque não conseguem perceber outras possibilidades de atuação que vão além da “padrão”, que pode não ser a mais adequada para o seu perfil profissional.

Pensar em uma realidade diferente para os colegas de profissão que não estão onde se sentem completos ou que estão desmotivados com a profissão é uma TAREFA URGENTE para TODOS nós do secretariado: docentes, sindicatos, comitês, federação e profissionais. Necessitamos de nos unir para construirmos uma consciência secretarial que valorize o sujeito e incentive ele a ser o melhor de si, não o que idealizam dele.

Necessitamos de, em caráter de urgência, falar de identidades secretariais e estudarmos sobre elas. As/os estudantes e profissionais desmotivados precisam de conhecer as diversas possibilidades de atuação dentro do secretariado, para que assim consigam estabelecer uma trajetória mais humana dentro da profissão, em que ele trabalhe as suas potencialidades sem se limitar à assessoria executiva de alta gestão, por exemplo.

Eu sempre falo: a profissão não vai acabar. E existem vários textos meus e de outros escritores, profissionais e pesquisadores dizendo o mesmo. Estaremos sempre dentro das organizações. Se isso é uma realidade, nosso desafio já não é mais pensarmos em como manter a profissão viva, mas como manter os profissionais de secretariado com saúde e vivos. O desafio que temos lançado para o novo século, acentuado pelo isolamento social influenciado pela pandemia, é o de pensarmos nas práticas profissionais com um olhar mais humano, mais sustentável, respeitoso. Não há mais espaço para o mero tecnicismo na era da globalização, logo não há mais lógica em termos um arcabouço teórico meramente técnico, composto somente por manuais. É preciso mais, muito mais, e aí está o meu convite para você que me lê: seja um ativista secretarial, pense no próximo que faz parte da mesma profissão que você, juntos somos mais fortes.

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Você ficou com a sensação de que o texto não teve um fechamento? Pois então, esse é  objetivo: não finalizar. O debate precisa se manter vivo. Precisamos! Necessitamos! E você faz parte disso, agora cabe escolher: manter-se em paz, ignorando esse debate, defendendo que a culpa da falta de sucesso dos outros profissionais é falta de formação e interesse; ou questionar as formações ofertadas pelas Instituições de Ensino que dizem, simbólica e discretamente, que um secretário que trabalha em um escritório odontológico é inferior ao que atua na assessoria executiva de alta gestão. E aí, não falo de complexidade de atuação, não hierarquizo as práticas, afinal ambos são profissionais de secretariado.

Você está preparada/o para deslocar seu olhar e analisar o secretariado pela ótica humana? Reflita sobre isso.

Comentários

  1. Jefferson, parabéns pelo texto! Ótimas colocações e provocações. É preciso sempre repensar nosso papel no mundo. E isso inclui repensar e resignificar nossa atuação profissional. O secretariado é um campo tão vasto e cheio de possibilidades. As vezes nos deparamos com profissionais que não veem essas outras possibilidades e acabam por minar a profissão e a formação em secretariado. Mais do que nunca é preciso refletir e discutir sobre os rumos diversos que podemos ter. E você fez isso neste texto (e o faz sempre em suas ações e falas)! Obrigado :)

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  2. Gratidão pelas palavras de conscientização e que nós remete a uma reflexão profunda. Me considero uma ativista secretária e continuarei assim, mesmo quando sofrer críticas dizendo que é um trabalho que qualquer pessoa faz!!!

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  3. Parabéns pelo texto. Venho alertando, por pelo menos duas décadas, sobre a necessidade de engajamento e estudos no campo do Secretariado. A situação chegou no cenário atual com a participação dos profissionais, acadêmicos e docentes de Secretariado. Afinal, o silêncio ou a indiferença é, também, uma posição sobre o que nos envolve.

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