Tem horas que a gente ora, pede, geme e chora
Arte de Xuan Loc Xuan |
Ano passado foi um ano bem louco em minha vida. Foi um ano importante para curar algumas feridas, tentar me encontrar, pensar em projetos futuros e descobrir qual é a minha grande missão nessa terra. Dizem que isso acontece com mulheres quando chegam aos 30 anos e com homens quando chegam aos 50 anos. Acho que chegou mais cedo aqui.
As coisas aconteceram e foram se ajeitando, pelo
menos era o que eu achava. No meio do ano, fantasmas do passado decidiram
voltar. Sabe aquela maçã podre que você decide deixar embaixo do tapete ao
invés de enfrentá-la? Pois então, por tempos eu deixei ela lá, não queria visitá-la
e nem pensar sobre. Ela decidiu reaparecer e veio com força. Eu dei força a
ela, eu intensifiquei o valor do que ela falava para mim.
Na vida, várias coisas acontecem e todas,
absolutamente todas, acontecem com o objetivo de nos ajudar a evoluir como
pessoas e como seres espirituais. Nada acontece por acaso, isso é um fato que
nós não conseguiremos mudar. Nesse sentido, você pode enfrentar o que está
acontecendo ou deixar ser levada/o. Eu me deixei ser levado por um tempo, em
relação a alguns problemas e preciso te dizer que foi a pior coisa que eu fiz.
A melhor das piores coisas que eu fiz na vida, pois enquanto foi ruim, foi
instrumento de aprendizado e amadurecimento.
[...]
Tudo estava bem: emprego dos sonhos, reconhecimento
profissional, carro, família organizada, mestrado terminando, amigas e amigos
maravilhosas/os ao meu lado e vários projetos ganhando corpo, mas algo não
estava bem. Esse algo era afetivo, amoroso. Perceba: várias coisas okay e uma
não. Essa uma conseguiu mexer em mim e criar uma falsa ilusão de que nada
estava bem. Você se sente menos, inferior, debilitada/o, destruída/o,
desmotivada/o, sente-se como se o mundo não quisesse a sua presença aqui, como
se você não fosse importante, como se nada de certo acontecesse contigo e que a
vida não faz muito sentido. São nesses momentos que a gente ora, pede, geme e
chora, mas parece não adiantar. É quando você acha que tem feridas que nem o
tempo vai conseguir curar. Aí é quando te digo que tem provações que a gente
aguenta, porque Deus sustenta e nos dá força para continuar.
O silêncio em meio a tantas perguntas é
enlouquecedor. Terapia parece que não ajuda tanto, parece que Deus se
distanciou e que os amigos já não mais te entendem. Tudo isso é um engano, está
tudo ali: Deus, amigos e respostas. Você precisa se permitir ver essas
respostas, se encontrar, se curar e se perdoar, acima de tudo se perdoar.
Perdoar os erros do passado, perdoar pessoas, perdoar falhas, liberar o perdão.
Enquanto você não fizer isso, continuará sofrendo. É o momento de tirar o sutiã
ou a cueca e se encarar, chorar o quanto for preciso, mas se permitir
questionar o motivo da dor. O que me faz mal? Por que me faz mal? Quais foram
as minhas contribuições para chegar até ali? Quais foram as contribuições das
outras pessoas para aquela dor? Pontue. Pontuar é conhecer, conhecer te permite
refletir e buscar formas de resolver o problema. É importante dizer que isso
vai exigir que você se desprenda de alguns orgulhos e preconceitos para
conseguir a liberdade dessa dor. Chorar limpa a alma, mas não resolve o
problema, caso o choro não seja acompanhado do processo de autorreflexão. Pense
nisso.
Nesse meio caminho, Deus falou comigo. Sim, Ele
entrou em meu carro e jogou algumas verdades em minha cara, mostrou tudo que
estava bom e o único problema que estava afetando tudo, mostrou quem eu era e o
quanto Ele me amava e me protegia diariamente. E uma fala dEle me fez acordar:
é fácil amar quem te ama, ame quem te odeia. Aquilo foi tão forte. Minha carne
tremia, meus poros dilatavam e é como se saísse algo de mim. Chorei como nunca
havia chorado na vida, sorri como nunca tinha sorrido. Hoje sei que o que saiu
dos meus poros foram perdões, perdões para mim mesmo. Eu precisava me perdoar,
perdoar todos os erros do passado. Outros perdões ainda estou trabalhando, um
dia os libero. Enquanto isso, pratico sempre o pensamento amoroso, mesmo para
quem não quer o meu bem. Tem me ajudado.
Amar quem te odeia é ofertar o seu melhor para quem
não está nem aí. Alguns diriam que isso é ser trouxa, mas não. O processo de
autorreflexão te ajuda a entender também seus limites. Cristo mesmo foi tentado
40 dias e 40 noites, não foi um único dia. Ele enfrentou a tentação e a venceu.
Ali, penso eu, estabeleceu seus limites na terra. Amar não é ser trouxa, é ser
humano. Somos amor puro e ao tentar burlar isso é que sofremos. Amar não é se
cegar, é abrir os olhos e se permitir viver a sua essência. Amar quem te odeia
é não desejar o mal do outro, é ser do contra e desejar o bem. Amar-se é
desejar o bem para si mesmo. A amor é tão nosso que Cristo manda a gente amar o
próximo como a nós mesmos. O amor começa aqui, eu preciso me amar para não
permitir que a dor tome conta de mim, mas que eu consiga administrá-la de modo
consciente e não lhe agregar valor. Ouso
dizer que quem se ama de verdade, oferta amor. Se alguém não consegue ofertar
amor ou valorizar o amor do outro, é provável que nem se ame. O amor não é
externo, é interno e por isso exige um esforço diário de alimentá-lo, como
fazemos com nosso corpo físico.
Para não prolongar muito mais, digo que se as
forças se esvaíram com as lágrimas que caíram, não permita que o sorriso venha
lhe faltar. Pra toda noite de agonia sempre existe um novo dia que brilha na
aurora trazendo alegria (Kemilly Santos – Tem horas). Se tudo está difícil,
enfrente essa dificuldade, permita-se viver essa dor, mas não dê força a ela,
mostre quem manda nessa história. Conheça-se, enfrente seus medos, seus
demônios e construa uma nova história, baseada no perdão, no amor (para si e
para o outro), na autorreflexão, na autovalorização e na descoberta do sabor da
vida nas mínimas coisas do cotidiano.
Me vi agora neste texto! Quanta sensibilidade! Show, querido! Amei!
ResponderExcluirRaul, meu amigo do secretariado.
ExcluirObrigado pela visita. Fico feliz em saber que gostou e que se sentiu tocado por ele.
Abraços fraternos,
Excelente, Jefferson!
ResponderExcluirFica tranquilo!
Deus está providenciando um sorriso
Pra cada noite que você passou aflito
O seu gemido será substituído por um hino de vitória
Não ceda agora
Não se limite apenas ao teu sofrimento
Deus sabe exatamente o que está fazendo
Por mais que hoje você não esteja entendendo
De fato, encaro cada dissabor como uma oportunidade de crescimento.
Viver o luto afetivo é fundamental e chorar faz parte disso, se entregar, não.
Gosto da sua sensibilidade.
Um abraço
Keysa,
ResponderExcluirOs dissabores são tão rotineiros, né?! Não dá para se deixar abalar por eles, senão a coisa não anda.
Obrigado pela visita.
Me encontrei em varios fragmentos do texto. Até parece que eram referências ao meu respeito
ResponderExcluirJoão Victor,
Excluirfico feliz que tenha se encontrado no texto. A ideia é mostrar que todos nós passamos por várias barras, às vezes são todas internas. É importante que a gente as enfrente para conseguir manter uma vida mais saudável.
Abraços e obrigado pela visita.